Do presente ao passado: A História de Peirópolis antes dos fósseis


Peirópolis, bairro uberabense ícone da Paleontologia, tem uma História singular. Quando passeamos pelos jardins ou visitamos o Museu, deslumbrados pelo bucolismo do lugar, quase ninguém percebe que ali já foi uma estação ferroviária. Este espaço, bem como outra dezena de construções da região central do bairro passaram,desde 1992, por processos de tombamentos pelo Patrimônio Histórico de Uberaba.
Todo este processo e a conversão do prédio da antiga estação férrea em Museu Paleontológico foi uma luta empenhada pelos moradores da comunidade. No fim da década de 1980, eles se uniram, através da Associações do Amigos e Moradores de Peirópolis, para barrar a dinamitação das rochas para exploração do calcário, já que elas continham grande quantidade de fósseis por escavar. Além disso, munidos de um sentimento coletivo e conscientes da riqueza patrimonial dos fósseis, os moradores lutaram por um espaço de pesquisa e exposição dos fósseis encontrados no bairro, pois, na ausência deste espaço, eles eram levados para o Rio de Janeiro. Trabalho este articulado pelo renomado cientista – e que hoje nomeia o museu – Dr. Llewellyn Ivor Price (1905- 1980). Assim, a comunidade conquistou este espaço de pesquisa e exposição no prédio da antiga estação férrea.
Ela esteve abandonada desde 1970, quando foi desativada. Neste intervalo (1970-1992), o bairro teve uma estagnação do grande movimento que a ferrovia proporcionava. A causa disso? Um trágico acidente em 28 de setembro de 1970. O trem descarrilou em uma subida e os vagões de cimento tombaram sobre os vagões de pessoas. A tragédia deixou uma comunidade de famílias em luto e encerrou a célebre ferrovia.
Ela representa uma saudade constante de um bairro distante da urbanidade, porém, completamente antenado. A ferrovia integrava o bairro com todas as cidades vizinhas através do transporte de pessoas, além de escoar a produção do cal. Peirópolis que antes se chamava Paineiras (1899), foi reflexo do progresso brasileiro dos anos 1910 e 1920. Além da prosperidade econômica na figura da ferrovia, o bairro era rural, mas se comunicava com outros lugares através da linha telefônica na Casa da Telefonista e um posto dos Correios e Telégrafos na estação, que recebia correspondências diariamente.
O nome que homenageia a estação em 1924 é do imigrante espanhol Frederico Peiró (1859-1915). Empreendedor e visionário, ele chega ao bairro na mesma década que a ferrovia, em meados de 1890. Peiró é o precursor de dois eventos marcantes e que atravessam a história do lugar: a religião e a escola. Amigo de Eurípedes Barsanulfo, Peiró estimulou o espiritismo, sendo que, esta foi a religião preponderante no bairro, que possui três centros espíritas. Nos dias de hoje, o espiritismo teve uma pequena decadência, mas ainda é forte e coexiste pacificamente com católicos e protestantes. A escola também é icônica: datando de 1910, em um período em que a educação era elitizada, o espanhol construiu uma escola para os filhos de seus funcionários. Atualmente ela está sob a gestão municipal.
Assim, do Passado ao Presente, na Pacata Paineiras, passou Peiró com o Progresso, passou o Price com a Paleontologia e a peculiar Peirópolis pode parecer um pedacinho do paraíso.


Fontes
¹http://www.portaluberaba.online/peiropolis-e-tema-de-livro-que-sera-entregue-com-sessao-de-autografos-no-dia-28-de-junho/
²http://www.curtamais.com.br/uberaba/peiropolis-a-terra-dos-dinossauros-e-um-dos-passeios-imperdiveis-em-uberaba
³Acervo PET História UFTM, 2019.
Acervo PET História UFTM, 2019
Acervo PET História UFTM, 2019
Associação dos Amigos e Moradores de Peirópolis, sem data.
Acervo da Associação de Amigos de Peirópolis, década de 1980
Acervo da Associação de Amigos de Peirópolis, 1989
Lista de Agências Postais em 1911 enumera uma agência na Estação Paineiras em Uberaba - Hemeroteca Digital. Diccionario Postal Brasileiro, 1911. Edição A00068, p.66.  Disponível em: http://bit.ly/2kWZ6Jn
¹⁰Lista de ida e volta de trens na Estação Paineiras da Companhia Mogyana. Almanak Laemmert, 1910, Edição A00067, p.399. Disponível em: http://bit.ly/2mzTpkM