A imigração em Minas Gerais e os seus desdobramentos no bairro rural de Peirópolis


No presente texto falaremos um pouco sobre a historiografia da imigração na região de Minas Gerais, com base na dissertação de mestrado da historiadora Heladir Josefina Saraiva e Silva, que pesquisa sobre a imigração italiana na região de Uberaba e no Centro-Oeste Paulista, abordando os anos de 1890 até 1920.  Dessa maneira, em sua dissertação de mestrado: “Representações e vestígio da (des)vinculação do Triângulo Mineiro: um estudo da migração italiana em Uberaba, Sacaramento e Conquista’’, a autora realiza um panorama geral a respeito das políticas imigratórias adotadas pelo Estado de Minas Gerais no final do Império brasileiro e início da República, e especificamente sobre o papel do Triângulo Mineiro neste processo de imigração, além de concentrar informações sobre as características e os resultados da imigração no Estado. 

Nos anos 70 do século XIX, diversas mudanças ocorreram tanto em Minas Gerais quanto em nível nacional. Tais transformações se efetivaram na sociedade de modo a impactar e desestruturar quase que por completo a disponibilidade de mão-de-obra em terras mineiras, abrindo espaço para as discussões sobre novas formas de suprir essa mão-de-obra.

Foi no ano de 1892 que se iniciou a efetivação de uma política imigratória pelo Estado. A abolição da escravatura e a Proclamação da República foram fatores decisivos em meio às demandas crescentes na produção de café.

Na primeira fase, de 1892 a 1906, leis e decretos resultaram em um empenho administrativo para com o Serviço de Imigração, de forma a incluir orçamentos de mais de 5000 contos. Assim, em termos numéricos foi expressiva a imigração nos anos de 1896 e 97.

Na segunda fase, a partir de 1907, as diretrizes que nortearam o governo Mineiro estavam basicamente condicionadas ao povoamento do território, através de núcleos coloniais e de concessão de terras devolutas, fundando mais de 22 núcleos na Zona da Mata e no Sul. Vale lembrar, que havia bastante preocupação com o exclusivismo de uma só Nação da Europa, já que a maioria dos imigrantes que aqui chegavam eram advindos da Itália. Mas, tal reflexão fazia parte apenas do imaginário das elites mineiras, na prática foi a corrente italiana preponderante em Minas Gerais.

No triângulo a política imigratória oficial apresentou resultados numéricos baixos frente as demandas da região. Existiam significativas expectativas triangulinas enquanto bastante desencantamento frente ao processo imigratório dirigido pelo Estado.

O serviço de imigração no Estado era tímido e pouco numérico, devido a fatores como a estreita proximidade da região do triângulo com terras paulistas, e o encantamento com tal localidade, fez com que as políticas fossem feitas para “vencer as seduções das lavouras paulistas” (PIPIPO, p.107). 

A vinda de imigrantes para o Brasil, e sobretudo para o estado de Minas Gerais, mesmo que tardia, teve grandes impactos no campo econômico e social. Na cidade de Uberaba, a maior concentração de imigrantes foi de italianos, e como a política imigratória dava prioridade para imigrantes que já possuíam família no Brasil, foi possível a vinda, ainda maior,  de grupos de italianos que se estabeleceram na região, tornando a imigração individual rara no Estado de Minas Gerais. 

O estado de Minas Gerais era deficitário no que tange à mão de obra, nesse sentido, diversos lugares ofertavam emprego com pagamentos superiores ao de outros estados, como era o caso de São Paulo. Esse fator contribuiu para a concentração de renda por parte de muitos italianos, o que fortaleceu o enriquecimento e a permanência italiana no estado.  Porém, não podemos afirmar que as comunidades italianas eram hegemonicamente prósperas, haviam muitos imigrantes que fugiam desse estigma e ora era muito pobres ora eram presos por cometerem crimes.

Mas qual a ligação entre a vinda desses imigrantes para o estado de Minas Gerais e Peirópolis? O bairro de Peirópolis foi fundado a partir do estabelecimento de imigrantes espanhóis na região, o que contribuiu muito para a formação do bairro, pois o surgimento e fortalecimento dessa comunidade espanhola na região, através da extração de cal, determinou diversas melhorias, como por exemplo, a chegada da ferrovia, que passava, portanto, pelo bairro de Peirópolis, ligando o estado de Minas Gerais com o Estado de Goiás e de São Paulo.

Entretanto, por que a gente fala sobre imigração Italiana? Pois as fontes acerca da imigração Espanhola são escassas, justamente porque a presença de imigrantes espanhóis comparados aos italianos era menor, e a ausência de trabalhos nesse sentido, dificulta o cruzamento de fontes na investigação histórica acerca de Peirópolis. 

Logo, desde o início de 2020, nós petianos estamos pesquisando e estudando especificamente sobre a origem do Bairro de Peirópolis. E devido a esse tema, possuímos a necessidade de voltarmos o estudo para a imigração italiana e outros temas históricos, fazendo um recorte temporal para o fim do século XIX e início do XX, com o objetivo de confirmar e descobrir quais foram as possíveis primeiras movimentações de imigrantes durante esse período no bairro rural de Peirópolis. Para efetivação dessa pesquisa, também estamos estudando e analisando os trabalhos de outros historiadores. Além do trabalho da Heladir Josefina, estudamos o livro do  historiador americano Hebert Klein “A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL’’, que nele aborda o assunto sobre a vinda dos espanhóis para o Brasil durante o século XIX e XX. Outra historiadora também muito importante para a nossa pesquisa é a Marília Dalva Klaumann Canovas, que em suas publicações acadêmicas aborda a relação dos imigrantes espanhóis com o trabalho na produção cafeeira na região paulista do Brasil durante os anos de 1880 até 1930.

Assim, a pesquisa segue em andamento por tempo indeterminado, visto que agora no ano de 2020 estamos vivendo uma pandemia, o que nos deixa limitados em relação ao encontro de novas fontes históricas, restritas até o momento aos documentos digitalizados, concentrados nos acervos eletrônicos do Arquivo Público de Uberaba, São Paulo e Belo Horizonte, além dos periódicos de jornais da Gazeta de Uberaba e do Lavoura e Comércio, e também em documentos das Atas e almanaques da Câmera de Uberaba. Desse modo, tais pesquisas são transformadas em pequenos textos produzidos por nós petianos, que refletem o nosso aprendizado e nossa experiência diante de cada estudo e descoberta, sendo então expostas ao público geral através do nosso blog.


Referências:

SILVA, Heladir Josegina Saraiva e. Representação e vestígio da (des) vinculação do Triângulo Mineiro: um estudo da imigração italiana em Uberaba, Sacramento e Conquista (1890-1920). 226f. Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"- Faculdade de História, Direito e Serviço Social. Franca-SP.