A pesquisa histórica na era digital



Durante séculos, a historiografia baseou suas regras de validação de fontes e metodologia de análise em um suporte documental específico: o papel. A possibilidade de acesso às fontes históricas ao longo do tempo foi se alterando. e antes diversos documentos oficiais eram restritos ao público em geral e os pesquisadores, atualmente temos um grande acesso a diversos tipos de fontes digitalizadas. 

A partir de 1970 os documentos oficiais, aqueles pertencentes ao Estado, como é o caso de documentos sobre as ditaduras latino-americanas e os arquivos do Vaticano (Bovo, 2019), que tinham acesso restrito foram disponibilizados para o grande público. Atualmente nós pesquisadores temos uma grande aliada da investigação histórica: a internet. O surgimento das mídias sociais no final do século XX significou uma revolução no que tange ao processo de investigação histórica, ela abriu caminhos para a democratização do acesso às fontes, que agora podem ser acessadas de forma remota. Nesse sentido, esse processo de desenvolvimento das tecnologias contribuíram para um campo da História em ascensão, que é o da História Pública. Já fizemos uma publicação explicando sobre esse campo, então para saber mais você pode acessá-lo através clicando aqui

A Internet configura-se como uma nova categoria de fontes documentais para pesquisas históricas, em especial aos pesquisadores em tempos de Pandemia.  A  historiadora digital entra em cena no lugar do historiador dos arquivos públicos, no PET História UFTM por exemplo, nós realizamos pesquisas com o bairro Rural de Uberaba que é Peirópolis, se antes os petianos frequentavam o Arquivo Público de Uberaba, para realizar suas pesquisas, atualmente fazemos isso por meio da internet. Como o recorte espacial da nossa investigação concentra-se em Peirópolis, nós utilizamos o Arquivo Público Mineiro e também o material digitalizado do Arquivo Público de Uberaba para encontrar nossas fontes e investigar mais sobre a história desse bairro. 

A internet abarca uma gama enorme de fontes de fácil acesso dos mais diversos tipos, como por exemplo fontes visuais e orais no Youtube, ou então fontes escritas nos mais diversos Arquivos Públicos, Revistas científicas como a Revista de História da Biblioteca Nacional entre outras tantas possibilidades de pesquisa através da internet.  

Porém, ao passo que o desenvolvimento tecnológico facilitou o acesso a diversas fontes históricas, ela nos coloca barreiras também. Para que os documentos sejam acessados é necessário a digitalização destes, e diversos documentos que encontramos presencialmente nos arquivos não estão digitalizados e disponíveis na internet. 

Vale destacar também, o direcionamento das pesquisas pelas plataformas de busca. Ao buscar documentos para uma pesquisa utilizamos palavras-chave para  encontrar as fontes, e ao direcionar a nossa pesquisa através de uma espécie de filtro surge a possibilidade do pesquisador não encontrar determinado documento que talvez se estivesse pesquisando e folheando pessoalmente encontraria. Nesse sentido, o papel de “filtro” nos arquivos públicos são exercidos pelos historiadores e na internet é pelas plataformas de pesquisa. 

Sob o emaranhado da “web” o pesquisador necessita de um olhar atento ao selecionar os documentos relevantes para uma análise qualitativa, em contraste a análise quantitativa. Além disso, a falta de qualidade de grande parte do material disponível na Internet, o caráter volátil das informações, a falta de veracidade ou autenticidade da documentação, são pontos sensíveis para a pesquisa. 

É compreensível que a ciência histórica não ande ao lado das revoluções tecnológicas. Contudo, tratando-se da “web”, as rápidas evoluções provocam impactos sociais extremamente importantes. Nesse contexto de transformações profundas e de consequências ainda incertas, a pesquisa histórica não pode se isolar da realidade que pretende estudar. Ganha-se cada vez mais espaço a relação indivíduo-sociedade, já que o ciberespaço,  permite a criação de comunidades de interesses, afinidades ou identidades que contrastam e até tensionam as historicamente constituídas. Cabe aos historiadores assimilar os impactos que a nova fronteira tecnológica causou na lida com a documentação, e construir assim, uma metodologia específica para a lida com o “papel” digital.