A intermediação mineira do comércio do interior com as regiões centrais nos séculos XIX e XX



A intermediação Mineira do comércio do interior com as regiões centrais nos séculos XIX e XX


O estado de Minas Gerais, sobretudo a região do Triângulo Mineiro tivera papel importante na intermediação do comércio das regiões centrais do Brasil no final do século XIX e início do século XX. Com o processo de expansão da economia cafeeira, foi possível a construção de estradas de ferro que ligavam as regiões centrais ao interior do país facilitando o processo de escoamento do café para essas regiões.  
A elite paulistana, fracionada e com interesses diversos, se articulava em torno da atividade primordial da produção e manutenção desse complexo cafeeiro. A extensão desse produto fomentava riqueza e reprodução do capital, o que modula para a ferrovia um sentido estratégico-político. A chegada da estrada de ferro em Uberaba dependeu do empenho da camada dirigente, sendo a cidade ponto estratégico por sua inquestionável força mercantil do Centro-Sul com base na pecuária e pelo enorme prestígio de sua elite regional.  
Uberaba já tinha notável projeção alcançada ao longo da primeira metade do século XIX, que pode ser compreendida com base em suas localizações espaciais. Antes mesmo de ser cidade, as ações das lideranças da elite uberabense, demonstraram uma clara compreensão das vantagens da posição do arraial. Fizeram um desvio da Estrada Goiás para dentro da localidade, a instalação do porto da Ponte Alta, e finalmente a abertura de um caminho mais curto e regular até Goiás. Tais ações de integração fizeram com que aumentasse a fluidez da região pelo arraial, rumo às cidades maiores, e destas para a região. Havia explicitamente o desejo de formar uma região e, a partir dela, criar conexões. 
 Como a cidade fazia essa intermediação do comércio entre o interior e os grandes centros, diversos produtos que partiam de Uberaba eram fruto de reexportação de mercadorias vindas do interior. As estatísticas de São Paulo sobre a importação de produtos apontam para Minas Gerais como um grande fornecedor. No entanto, as regiões interioranas tiveram grande papel na exportação de produtos para os grandes centros. Há um silenciamento das fontes de São Paulo quanto a verdadeira origem dos produtos, sendo uma opção teórica que privilegia as ligações externas da economia brasileira. Isso fez com que pouca relevância fosse dada a este comércio voltado para o interior, apesar ele em seu conjunto ter alcançado grandes proporções e ter tido fundamental importância.  
Uberaba passa por um processo de expansão comercial com o avanço da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Com o aumento da exportação, Uberaba se tornou um grande centro comercial, e disso surgiu a necessidade da administração pública de estabelecer melhorias na cidade para apresentá-la como um local civilizado e moderno. Se tinha a preocupação por parte dos administradores locais em investimentos de iluminação e pavimentação das vias públicas, higienização, e a demanda de construções de pontos comerciais, como o Mercado Municipal de Uberaba.  
Em 1905, Uberaba deixa de ser a ponta dos trilhos da Mogiana, lugar agora ocupado por Araguari. Seria então esse progresso passageiro ao passo que poderia seguir rumo ao norte com os trilhos. Porém, esse incremento a partir da modificação dos meios de transporte, foi observada de forma diferente em meios urbanos e rurais, e soube cada um tirar seus proveitos. Podemos dizer que de maneira mais eficaz que as atividades urbanas, as rurais souberam usar melhor da ligação com o rico complexo o cafeeiro. Com a extensão da malha as exportações aumentam no ramo de alimentos, a elite do gado controla uma exportação consideravelmente alta, ao passo que também importa, principalmente o sal como alimento bovino, de maneira bastante significativa.  
O complexo cafeeiro substituiu o alto custo da mão-de-obra escravizada pela imigrante que era fortalecida pelo Estado, e tal fator foi preponderante para mudanças além do setor econômico. A vida e o trabalho mudaram pelo contato dos sertões com espanhóis, italianos e portugueses. Além de força de trabalho, tão necessária naquele contexto, os imigrantes levavam uma nova concepção de mundo e uma nova visão arquitetônica, que podem ser vistas em Uberaba e no bairro rural de Paineiras/Peirópolis. 
Os trilhos de ferro não traziam somente vagões de transporte, traziam produtos, pessoas e informações, simbolizavam o progresso material das nações. Somente a ferrovia seria capaz de aproveitar toda a riqueza mineira, ao deixar para trás os meios “bárbaros e coloniais”. Os investimentos ferroviários pelo Estado Imperial é um projeto de nação que visa o novo e a tecnologia da Revolução Industrial (OLIVEIRA, 2008, p. 208). A modernidade alcançada em Uberaba significou uma integração a economia nacional, e trouxe tanto para a elite quanto a população em geral, uma sensibilidade acerca da ferrovia, símbolo de extrema valorização e berço de modernidade.  
A cultura do café penetrou rumo ao interior e encontrou o Sertão da Farinha Podre, e não significou somente uma simples inovação nos meios de transporte e comunicação. Foi um marco de uma grande mudança na organização e produção do café, impacta profundamente em todas as suas linhas de escoamento, ao passo que inclui a novos agentes produtivos e novas relações de produção no campo e caminhava para o urbano. A estrada de Ferro fora criada por uma economia moderna e colocada à serviço do capital na conquista de novos espaços. Uma expansão da economia capitalista, responsável por mudanças estruturais no transporte e na sociedade agrária regional.  


REFERÊNCIAS 
OLIVEIRA, Paulo Roberto. Para Além do Rio Grande: os impactos da economia paulista sobre o Triângulo Mineiro. História, São Paulo, v. 27, n. 2, 2008, p. 203-223. 
OLIVEIRA, Paulo Roberto. A intermediação mineira do comércio das regiões centrais do Brasil na Primeira República. História, São Paulo, v.27, n.2, 2008.