Os impactos da economia cafeeira e das extensões das linhas férreas no Triângulo Mineiro
Em 1889 a região do Triângulo Mineiro é impactada pela economia cafeeira paulista
em expansão. Devido à extensão das linhas férreas, com a Companhia Mogiana de Estradas,
tendo, naquele momento inicial, Uberaba como última parada, resultou-se na mudança
econômica da região. A cidade de Uberaba estava a preparar-se para a chegada da linha dessa
companhia, na época a câmara municipal propôs uma festa para comemorar essa chegada,
além da extensão da Rua Barão de Ataliba Nogueira (antiga rua do comércio), nome em
homenagem ao presidente da Companhia Mogiana.
Também neste ano - há dúvidas se foi mesmo este ano - teria sido inaugurada a
estação Paineiras; Em 1918 a linha muda o nome para Cambará, apenas em 1924 muda para
Peirópolis, em homenagem ao fundador da comunidade Frederico Peiró, que morava numa
fazenda próxima a linha. Em resultado da tragédia ocorrida na região de Conquista no ano de
1970, muitos usuários da linha perderam a confiança na Companhia Mogiana, então, em 1976
a mesma foi desativada na região, tornando-se um centro turístico do bairro.
Uberaba torna-se um importante centro comercial como ponto mais próximo das
grandes paisagens centrais do Brasil; era uma cidade que despertava o interesse do capital
cafeeiro, então não seria problema ser ponto de passagem da Companhia. É válido observar
que nesta relação, tanto às elites cafeeiras paulistas lucram com essa relação (a extensão de
seus negócios aos sertões); tanto Uberaba lucra com a chegada da linha férrea (fortalecendo
seu comércio interno, sua burguesia, e usando a estrada como meio de comunicação para seus
negócios, principalmente a exportação do gado Zebu).
A princípio, foi um período que se constituía de mão-de-obra escrava, afim de tentar
amenizar a crise econômica colonial. Com essa mão-de-obra entrando em declínio, resultado
do processo de globalização capitalista e desenvolvimento deste, os cafeicultores as
substituíram pela mão-de-obra estrangeira que era mais cara e escassa, e associaram-se para a
criação das estradas de ferro. Ressalta-se ainda o papel do Estado (imperial-republicano, já
que tratamos de 1889, momento desta transição), também lucraria com a extensão da linha
férrea, podendo unir o Brasil através de suas malhas de estradas; tocando o projeto de Estado
Nação pautado pelo império.
Com a expansão do café, a companhia estava com grandes possibilidades de obter
lucro. A chegada dessa linha em Uberaba foi benéfico para a sociedade uberabense, pois além
de chegar a Maria Fumaça e os vagões de transporte, chegaram também, o telégrafo. Nos
anos 1890 a 1895, a cidade encontrava-se no auge da importação de produtos na estação
uberabense e tendo uma queda nos anos seguintes, sendo os produtos: sal, alimentos e
diversos. Quanto ao café, teve uma queda mínima, comparando com os centros produtores
paulistas, e tem uma pequena recuperação em 1898. Em 1895,o núcleo urbano de Uberaba
passou por uma significativa expansão, com o aumento de prédios urbanos, fábricas de
manteigas, fábricas de fumo, fábricas de sapatos, entre outros durante a década de 1900 -
além do aumento da população.
Mesmo antes da chegada da Companhia em Uberaba, os criadores de gado
começaram a experiência com o gado Zebu. As importações eram feitas em casas de
importação do Rio de Janeiro, e em 1898, começa a ser feito diretamente pelos criadores do
Triângulo Mineiro, eliminando os intermediários e passando a comprar gado direto da Índia.
Diversos criadores uberabenses foram para o país nesse mesmo ano.
Por fim, pode-se afirmar que a expansão do mercado cafeeiro caminhou, lado a lado,
com a expansão mas malhas ferroviárias; tendo Uberaba - posteriormente Uberabinha e
Araguari - como polos utilizados para tal. Atestamos que este processo é então um processo
de expansão do capitalismo e fortalecimento de uma burguesia nacional, fundada no
latifúndio e na pecuária, mas com vínculos a industrialização (moderada). O Triângulo
Mineiro, assim como São Paulo e todo o Estado nacional, lucram com esse processo, mas, a
que custo? É fato que as elites lucraram, mas, parafraseando B. Brecht em “Perguntas de um
Operário Letrado”: quem construiu as malhas ferroviárias? Quem plantava, colhia e moía o
café? Quem cuidava do gado vendido por fortunas? Essas pessoas também lucraram com a
expansão da economia cafeeira?