Peirópolis e seus aromas



Peirópolis é um lugar de várias facetas, e muitas delas envolvem seu artesanato. Impossível falar deste bairro rural sem lembrar de seus doces. Uma história permeada de aromas. Ao longo da pesquisa que o PET História UFTM vem realizando no local, sempre aproveitamos as visitas técnicas para saborear seus maravilhosos doces, especialmente o de figo, uma verdadeira obra de arte da culinária peiropolense.
Do sabor que agrada o paladar fomos à pesquisa de como isso surgiu, momento em que mais uma vez nos defrontamos com a determinação da população local, que tem lutado incansavelmente pela preservação do referido bairro e buscado formas de sustento que lhes permitam sobreviver neste espaço.

Devemos considerar que o hábito alimentar de uma cultura foi constituído inicialmente pela disposição regional de alimentos e, posteriormente, através de contatos entre diferentes povos, houve a produção de novos produtos, ampliando as possibilidades alimentares (GARCIA, 1995).

Os doces feitos em Minas Gerais têm sua história dentro do contexto da colonização brasileira, que a partir do ciclo da cana de açúcar ganharam características próprias, marcando a região pela fabricação das formas e texturas açucaradas. Aqui ocorreu a substituição dos produtos europeus por similares da colônia. Onde a portuguesa usava maçãs, peras e pêssegos, passou-se a usar o mamão verde e o coco.
Já a figueira originária do Oriente Médio, chegou às terras brasileiras no século XVI. Símbolo da ocupação de terra pelos colonizadores, logo passou a ser cultivadas lado a lado dos marmeleiros e das laranjeiras. De frutos delicados e perecíveis, a dificuldade do manejo e venda in natura, contribuíram para o modo de conservação em compotas, geleias, doces em barras e frutas cristalizadas, técnicas de acondicionamento também trazidas pelos colonizadores.
Das panelas de barro até as quitandas, a produção e comercialização de doces está enraizada no cotidiano de Peirópolis, cuja tarefa foi assumida por diversas mulheres, como a Dona Irani, grande conhecedora e divulgadora deste tipo de especiaria, cuja qualidade foi atestada até por Chico Xavier. Esta atividade foi aprimorada em 1998, quando houve um curso oferecido pelo Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER -, ocasião em que grande parte das doceiras criaram uma entidade coletiva, a Associação Comunitária Peirópolis Artesanato e Doces Caseiros, com o fim de organizar e garantir a continuidade da produção e venda de doces. Desde então as doceiras, como são carinhosamente conhecidas, têm lutado pela continuidade e condições mais favoráveis pela produção de doces, cujos percalços, especialmente de ordem burocrática, estão sendo enfrentados com disposição, perseverança e simpatia, fazendo do presente de Peirópolis um cotidiano recheado de aromas.



Referências
LOPES, Luciane Aparecida Melo. Os impactos socioculturais e o desenvolvimento do turismo paleontológico em Peirópolis – MG. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp155959.pdf. Acesso em: 30 abril de 2020.
SILVA, Silvestre. Frutas Brasil Frutas.  Rio de Janeiro. Empresa das Artes, 2005. 324p. 1ed.
GARCIA, R.W.D. Notas sobre a origem da culinária: uma abordagem evolutiva. CampinasRev. Nutr. PUCCAMP 8(2):231-44, 1995. 
MEZAN, Leila Algranti. Alimentação, saúde e sociabilidade: a arte de conservar e confeitar os frutos (séculos XV-XVIII). Disponível em: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/4642. Acesso em 01/05/2020.